A Tarde – Bahia deixou de receber 750 mil doses de vacina e Salvador, 200 mil, dizem autoridades

Por causa da distribuição desigual de vacinas feita pelo Ministério da Saúde, a Bahia teria um déficit de 750 mil doses e Salvador, de 200 mil, segundo autoridades de Saúde do estado.

“Precisamos que o critério de distribuição das vacinas seja revisto pelo Ministério da Saúde. A Bahia representa cerca de 7% da população brasileira. Neste cenário, deixamos de receber pelo menos 750 mil doses da vacina contra a Covid-19”, calcula o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas.

Já o secretário de Saúde de Salvador, Leo Prates, estima que a capital baiana deixou de receber pelo menos 200 mil doses de vacinas contra a Covid-19.

Prates e Vilas-Boas têm criticado os critérios adotados pelo ministério na divisão dos lotes de imunizantes. O ministro Marcelo Queiroga já reconheceu que há problemas na distribuição, mas a pasta ainda não informou qualquer medida para resolver a partilha desigual.

Ao calcular um déficit de aproximadamente 200 mil doses de vacinas para Salvador, Prates leva em conta a quantidade que a capital baiana precisaria para ter 67% da população vacinada, que é a cobertura média nas capitais, segundo o secretário. Salvador tem 56% da população vacinada com pelo menos uma dose, acrescenta o titular da SMS.

“Estimamos o envio a mais de cerca de 200 mil doses para ficar na média. A capital mais avançada é Vitória, com 88%”, exemplifica o secretário.

Em uma publicação no Instagram, Prates disse aguardar o envio de “doses compensatórias” e comemorou a primeira manifestação de Queiroga sobre o assunto, ao classificá-la como um “primeiro passo” para a correção do problema. “Há muito tempo, eu venho falando sobre o critério de distribuição de doses no Brasil. […] A nossa crítica não era contra ninguém, era a favor de Salvador, a favor da Bahia”, afirmou o secretário.

Em entrevista ao A TARDE, Prates avaliou como possível medida para reparar as desproporções a suspensão do envio de doses às capitais com taxa de vacinação superior à média até que as demais alcançassem esse índice

“Imagino que o ministério se baseou em campanhas passadas de vacinação, como a da gripe, e foram pegando a proporção conforme os grupos prioritários, como comorbidades, idosos. Só que nenhuma campanha é igual a essa. E normalmente nos estados do Sul as pessoas se vacinam mais contra a gripe do que no Nordeste. Então, eu imagino que eles foram pegando as frações, em vez de pegar o objetivo geral, que é toda a população acima de 18 anos. Então todo mundo deveria receber as doses conforme sua população acima de 18 anos”, afirmou o secretário.

Nesta sexta-feira, 16, a Bahia receberá 280.750 doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. Toda a remessa será destinada para a primeira aplicação, informou a Secretaria de Saúde do Estado. A distribuição pelos municípios será iniciada no mesmo dia, com o envio apenas às cidades que aplicaram 85% ou mais das doses recebidas anteriormente.

Queiroga sinalizou a possibilidade de alterar os critérios de distribuição entre os estados após uma fala do deputado baiano Jorge Solla (PT) em reunião na Câmara Federal. O parlamentar apresentou números recentes da própria pasta.

“Temos estados com oportunidade de vacinar um contingente maior de população em um tempo mais curto em relação a outros. Essa discrepância com certeza é porque não estão levando em consideração o tamanho da população de cada estado, nem mesmo a pirâmide etária”, disse Solla.

“Nós temos estados que receberam doses suficientes para vacinar 53% num extremo e, no outro extremo, estados que já receberam doses suficientes para vacinar 82,6% ou até mesmo 101%. Rondônia e Tocantins já receberam vacinas suficientes para toda a população. O Rio Grande do Sul já recebeu para vacinar 83%. No entanto, o Pará só recebeu para 54%, a Bahia só recebeu para 62,5%. Eu até entenderia se fosse uma variação pequena, em função da distribuição etária”, exemplificou o deputado. Solla ressaltou que as diferenças também não são explicadas pela velocidade com que as redes estaduais têm recebido e aplicado as vacinas.

Ao comentar as queixas de diversos estados, Queiroga lembrou que os critérios foram definidos antes da sua gestão. “Todas as vezes que eu me manifestei foi em defesa da higidez do Programa Nacional de Imunização, de suas decisões da área técnica. Essas decisões não foram tomadas agora. Isso foi decidido em outubro de 2020”, disse.

O ministro indicou então a chance de revisão do método adotado até agora, já que os grupos prioritários já foram atendidos. “Já se discute para que se reveja esses critérios, adotando só a demografia dos estados, sem considerar os fatores de risco, porque já foram contemplados. Para que se tenha uma distribuição mais adequada dessas doses”, declarou. “Mas é preciso deixar claro que tudo isso foi uma decisão tripartite e não uma decisão somente do Ministério da Saúde como o responsável pela locação das doses. Tudo isso foi tratado por Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde] e Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde]”, ressaltou.

Segundo Vilas-Boas, o Conass já se manifestou a favor da mudança em reunião do Fórum de Governadores com Queiroga na última terça-feira, 13. “O critério atual gera iniquidades que só fazem se agravar mais a cada dia. Não é verdade que as doses sejam enviadas de forma proporcional e igualitária para todos os estados e Distrito Federal. Elas seguem de acordo com regras pactuadas, mas que não são mais adequadas. É preciso corrigir isso nas reuniões tripartite”, afirmou.

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